terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ABSTRAÇÃO

O branco sempre me desafiou a me mostrar quem sou...
Ora, não sou o branco...tenho cores...tenho nevoa...e tenho luz
Mesmo que a luz se resuma a sombra,... eu a tenho.
Por mais que me desafie, não o odeio...até admiro o branco...
E de tanto, até tento me juntar a ele, e em um primeiro momento, até tento preservá-lo...seria o auge da vanguarda...

- pintei um quadro em branco!

O que diria Marcel Duchamp...com seu urinol..frente a um quadro arduamente pintado em branco...ou então Henri Matisse ao se deslumbrar com a reprodução tão perfeita da luz que a obra captaria do ambiente...(é branco, reflete tudo!!!)
Mas de fato é que nem por Duchamp, ou por Matisse eu conseguiria...
Na verdade por mais que tente, não consigo ser tão abstrato assim...ou ser vencido pelo Branco (como preferirem).
Sei que de fato minha abstração cabe no rol de cores que disponho (e não são muitas)...mesmo que não as use todas,... as que neguei talvez se mostrem mais dos que as que usei...por que as usadas, essas sim serão expostas...essas pagarão! Serão vigiadas! Avaliadas! E fatalmente perderão sua abstração frente as mais diversas observações...

- olha mãe...aquilo parece um cavalo...acho que é uma nuvem...aquilo parece com uma rua deserta, de noite e chovendo...isso daqui é um cachorro? O que você quiz dizer com isso?

É, como disse...essas pagarão!
Emprestarão-lhes todos os sentidos e significados possíveis, sem nunca entendê-las...

São livres, servem para libertar...não para prenderem, ou se prenderem a um significado...têm como unico sentido de existência o afastamento do pensamento do objeto...ou seja delas próprias...autônomas, são abortadas, independentemente da vontade de quem as pariu, ou do significado de quem as observa...são cores quem trazem como único intuito... disfarçar o branco.

2 comentários:

  1. um dia me falaram que o dizível é somente a ponta do iceberg da linguagem... o importante mesmo é o oceano em que este iceberg fluta.

    me pergunto se isto não é válido para a arte em geral. A vida que é dada ao indizível pela palavra do poeta e o jogo de cores que remete à nossa humanidade o qual poucos conseguem materializar de fato são no fundo a mesma coisa.

    Mas é uma das inúmeras que preferem ficar no campo do indizível, e eu não sou poeta para resgatá-la. Deixa pra lá :)

    Bom texto!

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